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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

City Love (continuação)


 Enfrentava o frio da noite mais depressa do que esperara, nem meia hora passara no interior da discoteca. O Afonso saia logo atrás de mim correndo por momentos para me alcançar.
-És sempre assim tão mandona? – perguntou não disfarçando o passar de olhos que fazia pelo meu corpo.
-Não, só com quem eu sei que obedece. Tens carro ou vais me levar ao colo? – soltei uma gargalhada.
Ele riu também respondendo.
-Por aqui senhora.
Abriu-me a porta do carro muito cortês e fechou-a depois de eu entrar. Já em andamento e com uma voz feminina de rádio muito suave como música de fundo, quebrei o silêncio de breves minutos:
- Para onde me levas?
- Para onde queres ir?
- Para um sítio onde não se pense em nada. – disse automaticamente olhando o infinito que se estendia pela janela, depois voltei a cabeça para ele – Nem em ninguém. – continuei com um tom triste.
Ele olhou-me por momentos parecendo compreender o que eu sentia como se lesse o meu pensamento através das minhas palavras. Também ele entristeceu o azul dos seus olhos.
-Conheço o sítio ideal.
O interior do carro estava quente e confortável, ao contrário do que alguma vez pensara, sentia-me bem ali, não pensar nos possíveis perigos que meter-me num automóvel com um desconhecido me poderia trazer fazia-me sentir segura. Dirigi lentamente o olhar para o exterior. Opostamente ao ambiente interior, a noite lá fora estava negra e parecia gelada. As árvores corriam na beira da estrada assemelhando-se a sombras de homens com mantos negros, arrepiei-me por momentos.
Finalmente Afonso parecia abrandar depois de uma viragem à direita. Quando parou consegui identificar o sítio tão esperado. Parecia um simples penhasco esquecido num matagal de estrada antiga onde provavelmente ninguém apareceria, deveria começar a sentir medo mas, em vez disso, a desilusão atingiu-me. Era este o sítio prometido? Ele sentiu o meu descontentamento:
- Não julgues as coisas pela aparência. Anda.
Saiu do carro e contornou-o rapidamente para abrir a minha porta. Estendeu a mão para combater a minha hesitação. Lá acedi e segui-o até à ponta do penhasco. Foi aí que vi toda a beleza que ele prometera, a minha frente estendia-se toda a cidade nos típicos padrões nocturnos. As luzes pingavam um manto negro manchado pelos raios da lua cheia. Parecia um cenário cinematográfico, quase irreal. Olhei para baixo sentindo-me minúscula e inútil face a toda a imensidão daquela paisagem assoladora, um pormenor totalmente dispensável. Ao mesmo tempo sentia o corpo leve com o vento a passar-me no cabelo e a mover-me a roupa. Abri os braços e deixei-o atravessar-me. A vontade de me deixar cair em direcção à cidade era tão grande que me manipulava as sensações como se a queda livre não doesse, como se em vez de caminhar para a morte caminhasse para a libertação.

3 comentários:

Anónimo disse...

Dona InêS Alessandra,
eu sabia que a menina tinha talento mas tanto?!?
deixaste-me curiosa para saber o final!
Mais uma vez: I like it :)
Beijinhos

Anónimo disse...

Inês adorei mesmo *.*
Esquece tens de continuar está sem dúvida alguma fenomenal! :')
Beijinho
Bia

Inês Gomes disse...

Thanks *.*