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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

City Love (FINAL)


Senti algo macio a rodear-me, Afonso fazia um cobertor envolver-me, só então reparei no frio que tinha.
-Tens tudo preparado, são assim tantas as que trazes aqui? – provoquei.
-Não, só as inteligentes. – piscou o olho e ambos rimos.
A resposta inteligente dele fez-me observa-lo com mais atenção, para lá da sua boa aparência, observar o seu jeito ágil e a forma elegante com que se movia, tentar adivinhar a sua personalidade. Eu não estava ali por ele, estava ali por mim, para fugir da realidade, ele afigurava-se apenas ao meio para atingir o fim. Mas aos poucos começava a despertar do egocentrismo e a germinar a curiosidade sobre aquele rapaz.
Via-se que tivera uma boa educação, apesar de parecer o habitual “lady’s man” os seus bons modos notavam-se simplesmente pela sua postura e pela sua maneira de estar. Isto, aliado à sua beleza fazia-o assemelhar-se aos cavalheiros de antigamente, um autentico “bom partido” para qualquer rapariga. “Eu é que não me importava de tomar partido daquele corpinho” pensei perversamente sorrindo por dentro.
Senti os músculos descontraírem-se ao sabor do quentinho do cobertor, sentia novamente o conforto do carro e a vontade normal de querer permanecer viva.
A nossa noite prolongou-se docemente sem darmos pelo tempo a passar. Ali estávamos nós, dois adolescentes, enrolados num cobertor, com a cidade a estender-se aos nossos pés como se dela fossemos senhores, iluminados pela luz forte e recta dos faróis que deixavam aquelas cores acobreadas, tão bonitas, manchadas no cabelo dele. Nada aconteceu a não ser longa conversa sobre tudo e sobre nada e gargalhadas que explodiam ecoando nas pedras frias do penhasco. A inevitável manhã chegou. O sol erguia-se por detrás da cidade tingindo tudo com um amarelo esbranquiçado, era um espectáculo demorado mas incrivelmente deslumbrador que nos bloqueou a fala por alguns minutos. Depois, ele olhou para mim e sorriu, não o mesmo sorriso provocador do inicio da noite, era um sorriso meigo e doce que me deu a sensação de borboletas na barriga.
-Pequeno-almoço? – perguntou ele com uma energia inesperada na voz.
- Não posso, tenho de voltar para casa. – respondi com uma expressão de dor como quem pede desculpa.
Deixou-me em frente a discoteca depois de inúmeras tentativas para me levar a casa.
-Tens a certeza que não queres que te leve? – insistiu mais uma vez enquanto eu abria a porta do carro e me preparava para sair.
- Adeus Afonso! – retorqui com uma impaciência brincalhona na voz.
Já estava com uma perna fora do carro quando ele me agarrou no braço e me puxou. Beijou-me. Foi um beijo calmo e terno, com sabor a baunilha e a manhãs claras, um beijo que, no inicio da “aventura” nunca encaixaria com ele, mas depois de tantas horas de conhecimento vazio, parecia lhe assentar como uma luva. As mãos dele seguravam-me pelo pescoço passando no cabelo de uma forma carinhosa. Afastou-se para fitar a minha expressão segurando o meu rosto entre as suas enormes mãos. Simplesmente sorri enquanto o olhava nos olhos o mais intensamente que conseguia.
- Gostei de te conhecer Afonso. – disse sem dificuldades em pronunciar as palavras ao contrário do que receava, ele fazia-me sentir a vontade.
- Não vais mesmo me dizer como te chamas?
- Se dissesse não teria a mesma piada, pois não?
Pisquei o olho e afastei-me do carro com a pulsação disparada e com formigueiro nas mãos. Esperei que arranca-se e chamei um táxi.
Nunca mais vi o Afonso. 

3 comentários:

Ana disse...

Está simplesmente fantástico!
Adorei a tua "short story", tens mesmo uma escritora escondida em ti. ;)

bjinhos

ndr+ disse...

uma grande e bela escritora, como eu sempre o disse :)

Inês Gomes disse...

obrigada mesmo *.*
meu 'Dedé :3