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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Espuma


“I'll leave my window open, cause I'm too tired tonight to call your name. Just know I'm right here hoping you'll come in with the rain.”
Come in with the rain-Taylor Swift




Estava sentada no centro da banheira agarrada e com a cabeça apoiada nos joelhos encolhidos, meia submersa numa camada espessa de espuma macia  e brilhante. A banheira era pequena para mim mas sentia-me como se estivesse num enorme mar branco e perfumado, ali, esquecida...sozinha. Os azulejos cor-de-rosa estavam baços do vapor quente e uns finos feixes de luz trespassavam-me vindos das lâmpadas suspensas por cima dos vidros dos lavatórios.
Já tinha chorado muito, chorado o coração, chorado até ficar com esta dor de cabeça insuportável e sentir um pesar nos olhos inchados que suplicavam uma sesta num quarto escuro. Agora limitava-me estar ali isolada, naquele mínimo mar de espuma numa apatia que nem eu conseguia decifrar.  Quando era pequenina costumava achar a espuma deslumbrante. Na verdade era algo que não conseguia perceber porque era uma textura que nunca encontrara em mais nada, tão mole, molhada e ao mesmo tempo coleante ao corpo. Evaporava-se em segundos se me mexesse demais na banheira, algo que para mim era inevitável. Gostava de captura-la com ambas as mãos e depois liberta-la soprando como se fossem pequenos flocos de neve caindo no meu cabelo de princesa.
Agora só a observava a ser prescutada pela luz que fazia cada minúscula bolinha de sabão brilhar, mas eu já não era uma princesa, já conseguia estar imóvel na banheira e a espuma já não era neve.
Fui invadida por mais uma convulsão de choro. Tentei conte-la mas mesmo assim senti a minha cara enrugar-se e os olhos inundarem-se de água. Escondi o rosto entre os braços com vergonha de mim própria, só queria desaparecer, não ver nem estar com ninguém, nem mesmo comigo. Mas ao mesmo tempo desejava que alguém aparecesse, me abraçasse mesmo estando molhada e chorona, passasse a mão no meu cabelo e dissesse que tudo ficaria bem, e eu iria acreditar naquelas palavras e sorriria finalmente.
Mas ninguém vinha. Eu chorava e chamava sem falar por alguém que não viria... sabia que ninguém iria romper pela aquela porta pronta a me afagar e ao mesmo tempo sabia que fora daquela casa-de-banho o mundo estava cheio de pessoas cujas vidas continuavam indiferente ao que se passava comigo. Isso fazia-me sentir só e silenciosamente desesperada


Final alternativo:
Isso fazia-me sentir só e silenciosamente desesperada.
A porta escorregou lentamente pelo chão de azulejo  abrindo-se  e fazendo uma corrente de ar regelar-me até aos ossos. Pensei que seria apenas vento, nem forças para pensar tinha quanto mais para me voltar e ver o que se passava.
Senti então uma mão quente envolver o meu ombro direito nu e molhado, rodei a cabeça dolorosamente e ali estava a minha salvação.
- Eu estou aqui- disse ele enquanto me beijava a testa- nunca mais me vou embora.
Rompi em lágrimas grossas e descontroladas abraçando-o e puxando-o contra mim:
-Tive tanto medo- disse entre soluços mal pronunciados quase mesmo incompreensíveis.
-Eu estarei sempre aqui...
Eu continuava a saber que fora daquela casa-de-banho o mundo estava cheio de pessoas cujas vidas continuavam indiferente ao que se passava comigo mas a mais importante estava ali, não se importando com o facto de eu estar toda molhada e chorona, apenas me abraçando. Isso era o que me fazia sorrir.

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